Quando um Clube Português (Quase) se Sagrou Campeão Brasileiro | Fragoso do Paço (2024)

Foto de Destaque: ©Ronaldo Barreto/NETLUSA

Há 24 anos, a Portuguesa de Desportos ficou a escassos minutos de se tornar campeã brasileira. Hoje, afundada numa crise sem precedentes, aproveitamos a recente conquista da Copa Paulista para relembrar esta histórica instituição de São Paulo.

Até 2019, com a mediática e altamente bem sucedida campanha de Jorge Jesus no Flamengo, a atenção que em Portugal se dedicava ao futebol brasileiro era praticamente negligente. Entretanto, com a chegada de mais treinadores nacionais ao campeonato local, esse panorama alterou-se em certa medida, estando a impresa desportiva mais activa do que nunca no que toca à veiculação dos desenvolvimentos no Brasil – em especial de equipas com portugueses ao leme.

Também envolvendo portugueses, mas sem ter captado qualquer holofote da imprensa nacional, foi a conquista da Copa Paulista por parte da Portuguesa na passada quarta-feira (23/12). Uma vitória inédita, alcançada por um clube histórico que, apesar da forte ligação a Portugal que continua a preservar, permanece praticamente ignorado no nosso país.

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A Portuguesa é uma colectividade desportiva que, desde há 100 anos, luta por honrar e preservar o legado português no Brasil, em especial o da comunidade portuguesa de São Paulo. Além da sua pequena, mas fervorosa, massa associativa, as “surpresas” que não raras vezes causava aos grandes conquistaram também a simpatia e o respeito dos paulistas afectos a outros clubes. Em ano de centenário, perante as terríveis adversidades que a instituição tem vindo a enfrentar nas últimas temporadas, seria importante dar a conhecer o clube também aos adeptos de futebol portugueses.

Embora a Copa Paulista não seja um troféu de elite, trata-se, ainda assim, de uma conquista simbólica e um possível ponto de viragem na irreconhecível condição em que a Portuguesa mergulhou. Acostumado aos palcos principais do futebol brasileiro durante a maior parte da sua longa história, o clube, que em 2013 se encontrava na Série A, acabou inteiramente afastado das competições nacionais em meros quatro anos: foi despromovido da Série D em 2017. Uma situação calamitosa para quem, em 1996, esteve a escassos 6 minutos de vencer o campeonato brasileiro.

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2 1996: O Ano do Vice-Campeonato

3 O Declínio

4 O Presente (e o Futuro) da Portuguesa

Um Clube Português Entre os Grandes do Brasil

A Associação Portuguesa de Desportos foi fundada em 1920, resultado de uma fusão entre cinco clubes portugueses de São Paulo. Apesar da sua dimensão modesta quando comparada aos quatro grandes do estado (Santos, Palmeiras, São Paulo e Corinthians), passou grande parte da sua história na elite do futebol brasileiro, sendo o 19º clube com maior número de participações na Série A – um total de 35. Também conhecido no Brasil como Lusa ou Lusinha, o clube permanece até hoje como uma das maiores colectividades desportivas portuguesas fora de Portugal.

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No que toca a este ponto, será justo fazer notar que existem outros clubes brasileiros que partilham o nome “Portuguesa”, tais como a Associação Atlética Portuguesa (do estado do Rio de Janeiro, commumente designada por Portuguesa-RJ), a Associação Portuguesa Londrinense (ou Portuguesa-PR, sediada no estado do Paraná) ou, também no estado de São Paulo, a Portuguesa Santista (Associação Atlética Portuguesa, da cidade portuária de Santos), sendo esta incluvisamente mais antiga do que a própria Portuguesa de Desportos. Em todo o caso, não obstante os seus méritos, todas estas colectividades são comparativamente menores em termos de palmarés, número de presenças no escalão máximo do futebol brasileiro e nas competições da CONMEBOL, massa associativa e também pela quantidade de jogadores que, ao longo dos tempos, a Portuguesa forneceu à seleção brasileira.

Será também importante não esquecer que em rigor, no panorama futebolístico brasileiro, o Clube de Regatas Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, com 4 títulos nacionais da Série A e uma Copa Libertadores (entre muitos outros troféus nacionais e estaduais), é indiscutivelmente o clube de origem portuguesa mais bem-sucedido de sempre. A sua ligação a Portugal permanece salvaguardada através da sua história, dos símbolos, do hino e da significante parcela de luso-descendentes que compõe a sua imensa massa associativa.

Poder-se-á argumentar, contudo, que nos dias que correm essa ligação encontra-se comparativamente mais diluída quando posta perante a de um clube que continua a ostentar de forma inequívoca a sua lusitanidade tanto nas cores como no nome. Com efeito, ainda que o Vasco seja um clube mundialmente reconhecido, haverá portugueses afectos ao futebol que desconhecem as suas origens lusitanas.

Por sua vez, a Portuguesa permece um clube tradicionalíssimo até pelo seu ainda vincado bairrismo, afirmando-se até hoje como uma colectividade representativa da comunidade portuguesa e luso-descendente de São Paulo. A promoção da cultura nacional na cidade continua a ser levada a cabo através de eventos como a anual Festa Junina da Portuguesa, que faz parte do próprio calendário turístico da cidade, bem como da manutenção, além do futebol, de modalidades desportivas tão típicas em Portugal como o Hóquei em Patins.

Grande parte dos seus adeptos mantém uma ligação identitária a Portugal, não sendo rara a ostentação de bandeiras portuguesas tanto nas bancadas como no próprio equipamento da equipa. A título de exemplo, o emblema comemorativo que os jogadores envergaram na camisola durante campanha vitoriosa na Copa Paulista (reedição do seu design original, aquando da fundação do clube) é literalmente uma variação do brasão de armas português.

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Essa vincada identificação com o nosso país, na verdade, tem vindo a motivar, pelo menos desde os anos 90, um intermitente debate a respeito de uma putativa mudança de nome, dado que essa declarada ligação tem sido apontada por alguns ex-dirigentes como prejudicial ao recrutamento de novos adeptos.

Uma pesquisa levada a cabo pela consultora Pluri em 2012 atribuía à Portuguesa uma massa associativa na ordem dos 100 mil adeptos, todos eles concentrados no estado de São Paulo. Trata-se de uma torcida pequena para a realidade brasileira, embora não necessariamente insignificante.

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Só que as perspectivas de crescimento são pouco promissoras se tivermos em conta que o ano seguinte (2013) marcou o início de uma calamitosa derrocada que atirou o clube para uma crise sem precedentes, com sucessivas descidas de divisão e graves dificuldades financeiras. Efectivamente, a somar à redução dos fluxos migratórios de Portugal para o Brasil e ao facto de haver uma gradual perda de vincos identitários à medida que se verifica o suceder de gerações entre os luso-descendentes, há ainda uma inquestionável agravante que se prende com o mau desempenho desportivo em anos recentes e com a geral escassez de títulos a longo prazo.

De facto, apesar do assinalável respeito que conseguiu reunir no Brasil por mérito próprio, a Portuguesa, em termos absolutos, é um clube com poucos títulos. As mais importantes conquistas do seu palmarés resumem-se a um Campeonato da Série B, em 2011, e a três Campeonatos Paulistas, o último dos quais vencido em 1973. Nunca venceu um Brasileirão, o galardão máximo do futebol brasileiro… mas há cerca de 24 anos esteve perto, muito perto de o conseguir.

1996: O Ano do Vice-Campeonato

Ao longo da sua existência, a Portuguesa foi quase sempre uma presença sólida no principal patamar do futebol brasileiro. Paralelamente, dada a sua dimensão, nunca se tratou de um candidato ao título.

Foi nessa habitual condição que iniciou a temporada de 1996. Apesar de contar com alguns jogadores que já eram, ou que viriam a tornar-se, internacionais pela selecção brasileira (tais como Zé Roberto, Rodrigo Fabri ou César Belli), nada fazia crer que esse estatuto pudesse mudar. Uma fase regular tranquila, mas não necessariamente extraordinária, parecia sugerir o meio da tabela classificativa como o cenário mais provável.

Será importante sublinhar que à data, contrariamente ao modelo actual, mais em linha com as ligas europeias, o Campeonato Brasileiro de Futebol dividia-se em duas fases: a fase regular obedecia a um formato de liga disputada por 24 equipas numa só volta, com os 8 primeiro classificados a apurarem-se para a fase final, disputada por eliminatórias a duas mãos.

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À 23ª e última jornada da fase regular, a Portuguesa entrou em campo com uma missão praticamente impossível: colocada no 11º lugar, a equipa tinha de vencer o Botafogo e esperar que Sport Recife, São Paulo e Internacional de Porto Alegre não ganhassem os seus respectivos jogos. A quase impensável combinação de resultados viria mesmo a concretizar-se, e a Portuguesa acabou por preencher a oitava e última vaga de acesso, passando à fase seguinte pela segunda vez na sua história (a primeira havia sido em 1988).

No mata-mata, o conto de fadas quase se tornou real: a equipa eliminou o Cruzeiro nos quartos-de-final (3-1 no agregado) e o Atlético Mineiro (3-2 agg.) nas meias-finais. Conseguido o inédito acesso à final em pleno Mineirão, os jogadores da Portuguesa foram aplaudidos pelos próprios adeptos mineiros, num louvável gesto de reconhecimento pela estrondosa façanha que aquele pequeno clube de São Paulo acabara de conseguir.

A final seria jogada contra o Grêmio de Luis Filipe Scolari, vencedor da Copa Libertadores do ano anterior. A Portuguesa, cujo inacreditável trajecto reunira uma tremenda campanha de simpatia um pouco por todo o país (em especial em São Paulo, onde os adeptos dos grandes do estado se uniram para apoiar a Lusa), voltaria a surpreender na 1ª mão ao vencer os gremistas por 2-0. O sonho do título, mais do que nunca, parecia em vias de se concretizar.

A 2ª mão, porém, traria para as aspirações do clube um desfecho digno de uma tragédia. Num estádio Olímpico a abarrotar, o Grêmio entrou a ganhar com um golo de Paulo Nunes (jogador que viria a ter uma fugaz passagem pelo Benfica cerca de ano e meio depois) logo aos 2 minutos e colocou-se a apenas um golo de reverter a final.

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Um detalhe característico do Brasileirão daquele tempo eram os critérios de desempate da fase a eliminar: ao fim das duas mãos, em caso de empate na eliminatória, passava a equipa que, entre os dois oponentes, tivesse obtido a melhor classificação na fase regular. Por outras palavras, um eventual 2-0 para o Grêmio não empurraria a final para o prolongamento: garantiria, isso sim, a conquista imediata do campeonato para a equipa de Porto Alegre.

A Portuguesa susteve as várias investidas dos gremistas ao longo da partida e conseguiu segurar derrota pela margem mínima (que lhe atribuiria o título) até perto do fim. O médio Capitão, numa entrevista à Vice em 2016, afirmou o seguinte:

[O jogo] Já estava dominado. (…) Lembro que olhava pros jogadores do Grêmio, antes do gol, e eles estavam desanimados. Você podia ler [na cara deles] “perdemos”. É difícil de explicar.

O jogo parecia sob controlo e tudo indicava que seria a Portuguesa a levantar o troféu. Todavia, o golo do Grêmio acabou mesmo por aparecer aos 84 minutos. A Portuguesa, “traída” pelo invulgar critério de desempate que prevalecia na altura, ficou a escassos 6 minutos de ser campeã, isto sem nunca ter estado em desvantagem no agregado. Na mesma entrevista de 2016 à Vice, o treinador Candinho lamentou isso mesmo:

Foi azar, fazer o quê? [Mas] Eu não tenho decepção. Lógico que na hora fala “puta merda, podíamos ter sido campeões”. Fiquei chateado porque acho que merecíamos uma chance de ter o terceiro jogo. Ganhei de 2 a 0 deles também. Pra mim, ficou no empate.

Uma oportunidade de ouro que não mais se repetiu: o vice-campeonato de 1996 mantém-se até hoje a melhor prestação de sempre da Portuguesa no Brasileirão. Infelizmente, quando posto em perspectiva, o desalento de ver o título fugir-lhe das mãos ao cair do pano acabou por ser o menor dos problemas; os anos que se seguiram mostraram com toda a dureza que uma tragédia nunca vem só.

O Declínio

Os adeptos lusitanos que viveram o sonho da quase-conquista em 1996 dificilmente poderiam antever o quão dolorosa seria a queda depois da meteórica ascensão. Até porque as duas temporadas que se seguiram mantiveram o clube na luta pelo título: apuramento para a segunda fase em 1997, após um brilhante 4º lugar na fase regular à frente de todos os grandes de São Paulo, e meias-finais em 1998.

Nos bastidores, a campanha de 1996 havia atraído a atenção da Cirio, empresa italiana por detrás do sucesso desportivo da Lazio entre 1996-2000, e motivado a negociação de um possível contrato de patrocínio. A imprensa da época avançava um acordo na ordem dos 2 milhões de dólares anuais, com o próprio proprietário da Cirio e presidente da Lazio, Sergio Cragnotti, a confirmar aos microfones do diário la Reppublica, em Janeiro de 1997 (apenas um mês após a final perdida), que a Portuguesa passaria a envergar o patrocínio da Bombril, na altura uma sucursal da Cirio no Brasil, a partir de 1998. O negócio acabou por não se materializar e, aos poucos, o talentoso plantel que quase conseguira alcançar a glória foi-se desmoronando.

A queda gradual da Portuguesa atingiu um clímax em 2002, ano em que foi despromovida à Série B. O clube fluctuou entre o primeiro e o segundo escalões nos cerca de 10 anos que se volveram, não mais tornando a garantir qualquer campanha estável nas ocasiões em que logrou subir ao Brasileirão. Em 2013, após uma manutenção conseguida a custo dentro de campo, o clube acabou por ser condenado à despromoção na secretaria devido ao uso indevido de um jogador (um processo que ficou conhecido como “caso Héverton“). A má gestão e as dificuldades financeiras, que entretanto se haviam tornado tão críticas quanto crónicas, ditaram o resto.

O Presente (e o Futuro) da Portuguesa

A despromoção à Série B do Brasileirão em 2013 foi imediatamente sucedida pelos rebaixamentos para as Séries C, em 2014, e D, em 2016. Pelo meio, em 2015, verificou-se ainda o tombo para o segundo escalão do Campeonato Paulista. O desastre foi completado em 2017: última classificada do seu grupo na série D, a Portuguesa perdeu o direito a disputar as divisões nacionais e passou a poder competir somente na Série A2 do Paulistão.

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Fora de campo, a situação é desesperante. As dívidas ascendem aos 350 milhões de reais (55 milhões de euros) e a instituição enfrenta cerca de 500 processo judiciais por falta de pagamento. O estádio Canindé foi levado a leilão por mais de uma vez em anos recentes, não tendo encontrado comprador. Não só o património material do clube encontra-se degradado e carecer de requalificação, também o maior património que existe no futebol – os adeptos – tem manifestado dificuldades em suportar o caos em que o clube mergulhou.

Porém, se é certo que a Portuguesa ainda existe, é também aos adeptos que isso se deve. Apesar de não muito numerosa, a sua massa associativa é conhecida pelo seu fanatismo e merece ser louvada, não apenas pela coragem de apoiar um clube pequeno e tradicional no meio do mar de gigantes que é São Paulo, como também pelo facto de continuar a assumir abertamente a sua dedicação a uma instituição desportiva que muita gente tem vindo considerar condenada à extinção. A título de exemplo, a campanha SOS Canindé, lançada por sócios e apoiantes, permitiu em Julho que o estádio Canindé passasse a cumprir os critérios para a realização de jogos da segunda divisão paulista.

A Lusa comemorou este ano o seu centenário. Ainda não há certezas sobre se terá força suficiente para sobreviver – mas não desiste. A nova direcção, presidida por Antônio CarlosCastanheira, tem procurado a implementação de um modelo empresarial, com a separação entre o Futebol e o Clube, e a profissionalização da gestão da colectividade. Entretanto, a conquista da Copa Paulista afirma-se como uma centelha de esperança entre os sócios: além da taça em si, o título garante o regresso da equipa às divisões nacionais no ano que vem, com a entrada na Série D. Um merecido prémio para os adeptos, bem como uma grande lição de persistência e amor ao clube que muito terá para ensinar aos adeptos de futebol do nosso país, na sua esmagadora maioria afectos aos três únicos clubes com reais possibilidades de conquistar títulos.

As palavras de um adepto lusitano numa recente reportagem da Globo Esporte dizem tudo:

É difícil, é para quem é forte. É fácil torcer para um Corinthians, falar que “a gente sofre”. Não, vocês não sofrem, corinthianos, vocês não sabem o que é sofrer.

Siga a Associação Portuguesa de Desportos através do seu site e no YouTube.

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